sábado, maio 14, 2011

Muro

O muro resiste, anos e anos.
O muro aguenta tudo:
O peso de quem se senta nele,
A força do vento de norte,
A chuva implacável de Janeiro.

E resiste.
Altivo,
Imponente,
Orgulhoso.

Vêm os miudos grafitar,
Os cães urinar.
Vêm os namorados esconderem-se
E perderem-se de paixão.
Vêm as mães de seguida
À procura de um travão
Que os impeça de avançar cedo de mais.

E o muro assiste,
E resiste,
Lá do alto
Com um olhar nos pormenores
E outro no infinito lá à frente.
Não existem travões.

Vai-se o sol e o calor sufocante.
Regressa a chuva e o vento
Numa limpeza do terreno
E das almas,
Eufóricas pelos dias grandes
Grandes em tempo e em acções.

Anos iguais as outros,
Sempre iguais,
Sempre com as mesmas histórias
E por vezes até
Os mesmo protagonistas.

Um dia o muro racha.
Não resiste.
Dá um sinal:
Não aguenta mais,
Sozinho,
Todo este movimento
De vai e vem.

E racha outra vez,
E mais outra
Num grito sufocado
Pelo barulho à volta...
Do muro.

Ninguém ouve,
Ninguém vê.
E (atrevo-me) ninguém sente.

O muro cai.

Sozinho.

BUM.