Tenho andando a suprimir a vontade que tenho de escrever pela noite dentro. Já há muitos anos não me dava disto... desde os tempos de adolescência.
Lembro-me tão bem das noites passadas sentada na janela a ver o Tejo e a escrever sem parar. A maior parte das vezes, no dia seguinte quando acordava, rasgava e deitava fora. Eram devaneios da madrugada que, à luz do dia, não faziam muito sentido.
Hoje penso que deveria ter aproveitado mais (e melhor) a vontade de escrever. Devia ir à Google pesquisar sobre possíveis cursos ou workshops de escrita criativa (vou depois de escrever este post!).
Ainda assim acho que a criatividade que tinha na adolescência era mais pura e fluía melhor. Hoje penso nas consequências, penso na parte mais real e desisto de escrever.
Dou por mim às 3 da manha na cama, sem sono, a fazer poemas e textos de cabeça. Ainda penso em me levantar e vir escrever, aproveitar essa onda criativa. Na adolescência tê-lo-ia feito, mas agora adulta, penso em como no dia seguinte tenho de me levantar cedo para ir trabalhar, em como vir escrever não vai ter nenhuma utilidade, deixo para trás a pureza da escrita e forço-me a esquecer tudo e adormecer.
É a parte adulta, manipulada e sem imaginação que me controla.
E escrever é tão bom! Seja no blog, seja em folhas brancas de papel que depois guardo por aí, escondidas dos outros e até de mim. Os melhores textos (a meu ver) são aqueles dos quais sinto vergonha.
Não os mostro porque são demasiado reais. São textos que me despem. São íntimos. Mais íntimos do que o corpo despido, são uma alma a nú. E uma alma a nú é aterrorizante.
Perdemos o encanto quando tudo sabem de nós. Perdemos o encanto para os outros e para nós mesmos, porque constatar a verdade à nossa frente, dita em voz alta, é muito real.
Enquanto o pensamos e escrevemos não há uma voz a dizê-lo bem alto. Parece que há uma realidade irreal, não é verdade, nem mentira, é segredo na nossa cabeça e escondido numa folha de papel.
E andam para aí tantas folhas de papel...
Tenho o hábito de escrever directo, sem filtros e sem censuras a mim própria. Tanto nas folhas de papel, como neste blog, escrevo sempre directo e, quase sempre, sem reler o texto antes de carregar em "publicar". Por isso digo que deveria aperfeiçoar a escrita. Os profissionais da escrita (jornalistas, escritores, poetas) nunca publicaria sem reler dez vezes o texto.
A escrita é para mim apenas um meio de transmitir ideias. Para os profissionais, essa transmissão de ideias não é apenas "a rush of blood in the head", é um produto trabalhado, esforçado e constantemente melhorado. É o "afinar das máquinas" em cada palavra, cada virgula, cada pausa para respirar, como se imaginassem alguém a ler em voz alta. Tenho noção de que os grandes escritores o fazem quando leio um livro de poesia. Gostava de aprender a ser "afinadora" de palavras, nem que fosse só para as minhas folhas brancas que por aí andam.
(e agora vou ao Google fazer a tal pesquisa...)